terça-feira, 29 de julho de 2008

Sendo irônico

Algumas pessoas têm um dom natural de uma espécie de humor diferente do escrachado, a ironia.
Ironia é, além de uma figura de linguagem, a forma de se comunicar mais contraditória, depois do mutismo.

Como toda forma de comunicação, têm seus problemas. Quem não entende a ironia muitas vezes acha o "Irônico" (ser que usa de ironia) uma pessoa com problemas mentais ou mal humorada. O Irônico, por sua vez, vê nos leigos um campo vasto para a depreciação.
O que fazer, então, para viver em paz numa sociedade onde tantos são incapazes de entender essa sutileza?
Antes de tudo, ironia não é humor negro. O humor negro, embora muitas vezes mal assimilado, não é tão complexo quanto a ironia.
Também esta, não pode ser compreendida senão por alguém que também compreenda as regras da prática. Se não assim, usar ironia sem saber controlá-la pode fazer a pessoa ser tachada de exagerada, e exagero é o ponto principal da ausência da ironia verdadeira.
Não se usa exageiros em ironias a não ser que se queira demonstrar a leigos o uso da mesma. Deixando ela 'escrachada' e tornando o entendimento mais fácil.
Porém, os dominadores da arte raramente usam de exagero, porque sentem prazer em ver a cara dos leigos diante de informações imprecisas e contraditórias.

Mas isso praticamente impossibilita a comunicação.

Um exemplo:

Irônico conversando com leigo:

I: Oi!
L: Oi, tudo bem com você?
I: Não.
L: Nossa! O que aconteceu, cara?
I (sem graça): Ah, nada não... tava zuando! Tá tudo bem sim. E você?
L: Tudo ótimo! Consegui aquele CD do Rush que eu queria, agora tenho que tirar as músicas... tem material pra muiiito tempo!
I: Ah, que legal! Mas pra você vai levar uma semana só! Você é tãããão bom com a guitarra! Até chorei uma vez que ouvi você tocando lá no Square.

(O nosso irônico não liga de parecer falso - outro problema da ironia - e também não nega presas fáceis. Se o Ego do leigo for predominante, ele nem vai perceber a ironia, e vai ser vítima de mais flechadas. Esperemos que ele seja desconfiado e mude para um assunto neutro.)

L: Que isso, cara... quando eu toquei lá tava sem ensaiar fazia um tempo, já...
I (baixinho): Percebeu-se...
L:Oi?
I: Ah, nada não, cara! Tava pensando só que amanhã tem aula de geometria. Você já fez a TDC?
L: Ainda não, tá complicado a parte de calcular uns ângulos, lá...
I: Complicado? Magina... tenho certeza que vou tirar 10 em tudo!
L: Sério? Pow, me empresta tua TDC então, cara! Porque aquele monte de ângulos tão me enforcando!
I: Nem, não empresto TDC.
L: Porque não, cara? Eu já emprestei um monte pra você!
I: É, as que você me emprestou tavam per-feitas!
L: Aff... você tá sendo irônico, né?
I: Magina...

A conversa segue sem se aprofundar muito em nada, porque o nosso Irônico não dá o braço a torcer.
A grande vantagem da ironia é que o Irônico é sempre querido por todos, diferente daquele que tem o senso de humor negro, que é tachado de mentiroso, estranho e sem graça pelos leigos.
Mas agora, vamos imaginar uma conversa entre dois irônicos:

I¹: Oi!
I²: Oi, tudo bem?
I¹: Não.
I²: UHAHUSUHAUHUSHUAS Que pior! Viu, ontem tava lá na biblioteca a adivinha só quem chegou!
I¹: Adivinhei, já! Adivinha quem eu adivinhei?
I²: A Maíra, cara. Chegou perto de mim toda curiosa perguntando o que eu tava fazendo, se eu já tinha terminado o trabalho do Roger e visto o filme novo do Adam Sandler.
I¹: AUHSUHAHUSUHAUHS Ela é tãão espontânea, hein? E que mavavilha de papo... mas diz aí, porque você tá falando da menina maaais tudo da sala logo agora que eu tava comendo?
I²: É que ela chegou falando de você. Disse que o Fubá tinha falado que você fez a TDC com os olhos fechados, e veio pedir pra eu pedir pra você empestar pra ela, porque ela não entendeu nada.
I¹: Mas se eu emprestar pra ela o Fubá vai ficar com ciúme...
I²: UHAUHSUHAUHSUHAS
I¹: Ela queria era encher o saco, cara.
I²: Magina, ela é tãão legal! Só não pediu direto porque acha que você não gosta muito dela...
I¹: De onde ela tirou essa idéia?
I²: Deve ter sido daquela vez que ela dedurou você pro Flávio, das pixações na lousa...
I¹: Será? Mas não tenho culpa se ela não sabe controlar os sentimentos a meu respeito. Só porque ela não veio falar comigo, não empresto a TDC.
I²: Tá todo mundo acreditando nessa TDC do Hell.
I¹: Não é minha culpa.
I²: Claro, claro...


Instigante, não? Como qualquer língua, só dois fluentes conseguem se entender bem, sem passar por grandes problemas.
Homenagem ao Johnny, o amigo mais irônico que eu tenho, do qual já fui muitas vezes vítima (já que meu humor é mais tétrico e rústico) e recentemente aprendi a dissernir a arte.
Última pérola dele:
"Lorival, você vai dançar créu no challenge day?" (para o nosso amabilíssimo professor de inglês).



Bom, terminou de carregar o vídeo, então vou me despedindo por hoje!
Só vou colocar o vídeo que tava abrindo enquanto eu escrevia isso, pra não perder tudo:





The Cure
não é uma banda irônica, nem ao menos engraçada.
Aliás, muitas vezes dá medo. Principalmente com Robert Smith de olhos vermelhos e... crianças!
Mas foi por causa deste vídeo que saiu esse post, então faça um favor e assista. Boys don't cry, a mais conhecida deles.

Um comentário:

Anônimo disse...

ahuiahIuahuihAIuahIuhau
Perfeito Boo!
Quem nunca foi vítima de uma ironia?
=****