quinta-feira, 20 de março de 2008

Sobre as pequenas esperas na vida.

Ela esperava a duas horas a chegada dele. Tomou banho cedo, colocou seu melhor vestido - cor de rosa e laranja, em formato de jardineira com sandálias combinando - e amarrou os cabelos em duas tranças longas. Estava sentada no sofá, aguardando a chegada do pai e assistindo ao desenho que passava na televisão.
Era seu aniversário e iria ao cinema com os pais, depois de comer o Mc Lanche Feliz e comprar seu presente, a Barbie que voava com asas de borboleta e dançava sob o luar.
Mas o pai não chegava... os seis anos logo viriam e passariam e ele não estava ali para compartilhar deste momento!
Começou a ficar inquieta. Perguntou à mãe sobre a situação. A senhora, que trabalhava no escritório o relatório de um processo em andamento, apenas disse-lhe que o tempo é relativo e que continuasse a assistir TV, que logo logo o papai chegaria e poderiam ir para o cinema.
Ela então voltou para seu lugar no sofá, agora com seu ursinho preferido junto ao peito e um copo de Coca nas mãos. Não podia se encher de coca, já que iam comer fora e queria aproveitar. E esperou.
Esperou por menos tempo do que achou que esperou, e o pai não chegava.
Uma sensação estranha, de repente, começou a se apoderar dela. Se sentiu pequena, muito mais do que normalmente. A escuridão do lusco-fusco parecia intensificar-se com os minutos e o desenho da TV estava estranhamente triste. Neste momento o telefone tocou. Ela correu a sala para atender.
Era o pai. Não, ele não havia esquecido da data tão importante para ela. Apenas se atrasara na empresa e pegara um congestionamento maior do que o normal. Mas que era um congestionamento? Era um monte de pais querendo chegar a tempo de verem suas filhinhas fazerem seis anos e assistir com elas o filme da casa de brinquedos. Mas tudo já estava resolvido, e ela deveira ficar prontinha esperando com a mamãe que ele já chegava.
Então tudo voltou ao seu tamanho natural. Estava certo, afinal... nada mudaria seus planos. O pequeno desapontamento havia sido resolvido com o tempo e tudo seria como deveria ser. Voltou a sentar-se no sofá, bebeu um pouco de sua Coca e pegou seu ursinho para contar-lhe que tudo estava bem e que ficasse pronto.