quarta-feira, 2 de abril de 2008

A nossa terra de gigantes.

Quando eu fiz esse blog, não queria escrever sobre nada muito real, nenhuma das mágoas e dos medos que me encontram quando eu

ando por aí. Pensei em escrever histórias, contar casos, rir um pouco e fazer disso um treino pros meus escritos.
Mas dessa vez eu preciso escrever. O desânimo que eu sinto é tanto que se eu não fizer isso vou me sentir a pessoa mais inútil do mundo.



É como uma doença social que se alastra pela terra. A humanidade chegou a um ponto que eu gostaria de ser um bicho. De preferência um mosquito aedes egipty. A população sofre pela ganância impregnada na política do país, e chegamos a um ponto que eu penso não ter volta.
Vocês não vêem? O ciclo já está fechado. A base de tudo, a educação, é o setor que menos recebe atenção do governo. Quando recebe, é um apoio tendencioso e mal-intencionado de suposta renovação nas técnicas de ensino. O PDE (programa de desenvolvimento da educação) formatou a forma de ensino em um único parâmetro - imposto pelo governo. Ao mesmo tempo que "possibilita o acesso de estudantes carentes em faculdades particulares" e distribui mochilas e afins.
Ah, realmente, isso é uma piada...

Não, não é. Não há brincadeira alguma aí. Impor uma única forma de estudo, com uma única cartilha já é uma forma de imposição de idéias, ao mesmo tempo que abrir vagas em faculs pagas é praticamente ridículo, quando o estudo de base de quem é da rede pública é deprimente e se o não fosse, talvez os estudantes pudessem ter mais acesso as faculdades públicas. Mas isso não é interessante, porque de longe elas são melhores. Logo, formam profissionais competentes e de consciência formada, prontos para os melhores cargos - de liderança. É melhor abrir uma vaga em uma universidade privada, onde o conhecimento pode ser distorcido e refreado (porque a universidade precisa de autorização para funcionar) e garantir assim que as classes mais altas (que tiveram uma educação razoável) continuem dominando.
Por tantas outras coisas, da política de pão e circo que presenciamos até a vergonha que a classe trabalharoda consciente sente quando assiste jornal, tudo está se ligando.

Essa epidemia de dengue no Rio, por exemplo... os partidos brigam entre si e mais de 50 pessoas já morreram. A epidemia está se alastrando para outros Estados e mesmo assim não há uma política de combate real a isso. Porque não são formados mais médicos por ano, já que a demanda é tanta? Se a educação do país fosse melhor, talvez mais equipes de médicos fossem formadas, já que mais pessoas teriam condições de fazer uma faculdade pública...
Não vou ser exagerada de falar que isso é intencional para desviar a atenção da população e tudo o mais. Até porque ninguém vai ligar muito enquanto algum parente não morrer. Mas o que me corrói mesmo é a raiva de saber que tudo poderia ser diferente, se não fosse a ganância.
Isso gruda na sociedade como uma sanguessuga... e quem sofre não é quem suga, nem a classe que sustenta. Quem sofre é a classe que trabalha e tem consciência do que está acontecendo, da arapuca armada em que entramos (porque estamos cercados de governos pré-ditaduras ou início delas), mas não tem força pra mudar.
Porque quem estudou nas boas escolas, tem acesso fácil a cultura e vai fazer uma boa faculdade, ser chefe de alguma empresa e comandar e interferir na vida de muitos está se drogando ou transando ou numa rave ou ainda em qualquer lugar 'zuando com os amigos'.
E quem largou a escola aos doze anos porque teve que trabalhar, ou estuda de noite e tem um professor diferente a cada semana, quem morre de dengue porque não tem hospital... eles estão contentes com os programas de pão e circo do governo, com as novelas e jogo de futebol. Porque é disso que brasileiro gosta.
Você tá aí achando que vive em um país de merda?
Você tá certo.
Mas no fundo, a gente é que paga o pato. Porque a gente sabe que isso tudo é uma farsa. Mas se a gente falar, a gente perde o emprego. A gente pode até conseguir uma vaga em uma escola melhor, pode até tentar... mas vamos sempre ser a classe trabalhadora. Sustentamos a massa e o teto. E se nos rebelamos, é só atravéz de linhas escritas. Porque quem vai lutar por uma massa que apóia um teto que oprime? Quem vai ser tachado pelos dois e morto pelos dois?
O pior de tudo... é ter consciência do que acontece, mas não ter mãos e nem pés pra mudar - ou correr.




Nota: não confunda 'cultura' com 'manifestação cultural'. Cultura, como diria Fagão (ave!), é o domínio dos bens espirituais , do conhecimento. Não é tradição popular. Ter acesso a cultura é ter acesso ao conhecimento ao vivo e histórico. Pelo menos foi esse o sentido que eu quis dar no texto. Beleza?